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Lipedema: Quando a Gordura É uma Doença !


O lipedema é uma doença crônica, progressiva e ainda pouco reconhecida, caracterizada pelo acúmulo anormal e doloroso de tecido adiposo, principalmente em pernas e braços, que não responde às abordagens tradicionais de emagrecimento.


Embora frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o lipedema é uma condição distinta, com características clínicas e histológicas próprias. Segundo a Obesity Reviews (Wold et al., 1951; Buck et al., 2016), a estimativa é que afete até 11% da população feminina mundial, com impacto direto na qualidade de vida.


O que é lipedema?

Descrito pela primeira vez na década de 1940, o lipedema é definido como um distúrbio do tecido adiposo que leva ao acúmulo simétrico de gordura nos membros inferiores (e, em alguns casos, nos superiores), poupando mãos e pés. É uma condição quase exclusivamente feminina, relacionada a alterações hormonais, e pode se agravar com a puberdade, gestação ou menopausa.


Os principais sintomas incluem:

  • Acúmulo desproporcional de gordura

  • Sensibilidade ao toque e dor espontânea

  • Hematomas fáceis

  • Edema que piora ao longo do dia

  • Resistência à perda de gordura mesmo com dieta e exercício


Estágios clínicos do lipedema

O lipedema é classificado em quatro estágios progressivos:


Estágio 1 – Pele ainda lisa, mas com acúmulo de gordura visível e dolorosa ao toque.

Estágio 2 – Superfície da pele irregular, com nódulos palpáveis de gordura e fibrose.

Estágio 3 – Presença de grandes massas de gordura que deformam pernas e joelhos.

Estágio 4 – Lipedema com linfedema associado (lipolinfedema), causando limitação funcional grave.


Essa classificação foi discutida por Schmeller et al. (2006) e ratificada em diretrizes europeias sobre tratamento do lipedema.


Diagnóstico: como diferenciar lipedema de obesidade ou linfedema?

O diagnóstico é essencialmente clínico, mas pode ser auxiliado por exames complementares para exclusão de outras doenças:


  • Bioimpedância segmentar multifrequencial, que avalia a distribuição de gordura e água corporal

  • Ultrassonografia e ressonância magnética, para identificar alterações no tecido subcutâneo

  • Exames linfáticos, para diferenciar de linfedema

  • Histologia, em casos cirúrgicos, revela hipertrofia adiposa com inflamação crônica


Conforme documento da International Lipoedema Association (2021), o reconhecimento precoce é crucial para evitar evolução para estágios mais graves, além de reduzir o sofrimento psicológico associado.


Avanços no tratamento: novas perspectivas

O lipedema ainda não tem cura, mas a abordagem terapêutica tem evoluído com base em evidências científicas. Os principais pilares do tratamento são:


Tratamento conservador

  • Fisioterapia linfática e drenagem manual

  • Terapia compressiva com meias elásticas

  • Atividade física adaptada, como hidroginástica e caminhada

  • Dieta anti-inflamatória, preferencialmente com baixo teor de carboidratos refinados

  • Acompanhamento psicológico e educacional


Tratamento cirúrgico

A lipoaspiração tumescente com preservação linfática, quando indicada, tem demonstrado redução significativa da dor e melhora na mobilidade. Estudos como o de Stutz (2014), publicado no Dermatologic Surgery Journal, mostram que pacientes submetidos à técnica tiveram melhora sustentada dos sintomas por até 5 anos.

Além disso, tecnologias como bioimpedância multifrequencial vêm sendo incorporadas na prática clínica para monitorar o progresso de maneira mais objetiva e segmentada.


O lipedema é uma condição real, progressiva e frequentemente negligenciada, com impacto profundo na vida física e emocional de milhares de mulheres. Felizmente, os avanços na ciência e na tecnologia têm contribuído para um diagnóstico mais preciso e tratamentos mais eficazes.

É papel fundamental dos profissionais de saúde reconhecer os sinais do lipedema, orientar adequadamente e atuar de forma integrada no cuidado do paciente.

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